A Tua Cara não me é Estranha 2: Entrevista a Luís Jardim.


Jurado de 'A Tua Cara não Me É Estranha', TVI, Luís Jardim tece largos elogios ao talento de Luciana
Abreu, mas sublinha que "não basta saber cantar", acredita que há manipulação na escolha das músicas e fala da relação com o primo Alberto João Jardim, que o aconselha: "Tem cuidado com o que dizes."

Qual é o grande segredo do sucesso de A Tua Cara não Me É Estranha?
Há uma mistura de razões. É programa que é quase uma revista, teatro. É um programa entretido por vários artistas, há muita variedade. E não há a pressão de concurso, no fim o prémio é para uma instituição de solidariedade.

O próprio público está a reagir de forma diferente do que se fosse um programa para eleger cantores. São artistas já com nome.Isso não pode prejudicar os artistas que já têm nome? Temos o caso do Mico, na primeira edição, que ficou quase sempre em último lugar.Quando um artista tem fãs não os perde só porque fez um boneco que o público não gostou. Há um certo risco de serem julgados por uma má performance. No caso do Mico não foi por ter más performances, foi por estar a competir com outros artistas com bonecos mais interessantes, mais populares. O cantor que sofreu mais na primeira edição foi o Toy, por coisas que saíram nas revistas, atacaram-no por coisas que não são verdade. E as pessoas ficam com opiniões más sobre a pessoa e isso afetou a votação. O Toy foi dos melhores cantores e atores.

Recordando a primeira série, a edição 2 tem melhores vozes?
A segunda edição tem mais cantores. O FF é cantor, o Manuel Melo também, a Micaela, a Luciana Abreu. Talvez a Sílvia Rizzo, o José Raposo e Merche são os menos cantores do grupo. Mas são os três muito bons em estilos diferentes.

Em duas edições a Luciana Abreu ganhou. Acredita que os outros concorrentes têm alguma hipótese?
Penso que sim. Vai depender um bocadinho do artista que eles vão imitar. É natural que copiando uma diva como a Celine Dion e depois Dulce Pontes com um tema português... Ela é uma grande cantora, e isso tem efeito no que está a acontecer, mas não é só isso que é necessário. É preciso interpretar.Mas o público tem votado sempre nela com uma grande margem...Não sei. Com o João Paulo Rodrigues foi uma coisa diferente, ele era comediante. E juntou a isso o facto de ser muito bom cantor. É natural que tenha tido sempre uma audiência alta. Não sei se a Luciana Abreu vai conseguir ser tão constante. O nosso público não é estúpido, as pessoas percebem quando a coisa está a correr bem ou não. O FF esta semana foi extraordinário. Não estou ali só para dar pontos pela voz, mas sim pelo boneco todo.

Já sentiu reações do público pela votação que dá?
Sim. Questionam porque é que não dei mais pontos a esta ou aquela pessoa. Se há pessoa mais neutra naquele júri sou eu.

Porque diz isso? Os outros não são?Porque eu não conheço ninguém, só os conheci agora no programa. Só conhecia a Luciana e o Mico. E por isso não tenho grandes amizades ali, só agora me estou a tornar amigo. Não favoreço ninguém por gosto ou por amizades. A minha opinião é sincera.

Quem é o seu favorito?
Neste momento não tenho. A Luciana é uma cantora especial, não estou a falar dos bonecos que ela vai fazer. Não temos ninguém em Portugal como ela e no estrangeiro há muito poucas divas com o talento que ela tem. A Luciana é um caso especial na parte do canto, mas ela não está ali só para cantar, mas também para representar. Ela é a melhor cantora de todos os que lá estão, o FF e a Dora também são bons... mas a Luciana...

Faz sempre largos elogios a Luciana Abreu. Já pensou produzir-lhe um disco?
Falámos disso, mas ela saiu do Ídolos muito cedo. Desde o momento que a vi que pensei que se ela fosse embora de Portugal teria as mesmas chances que a Celine Dion e a Mariah Carey. Se ela me dissesse que queria fazer um álbum comigo era já amanhã.

A atribuição das músicas é mesmo aleatória como o botão da roleta dá a entender?
Dos concorrentes não há escolha mesmo. Mas alguém teve de programar aquele computador. As decisões vêm todas da TVI. Se você é um diretor de um programa, ou melhor, ponha-se no lugar da TVI, eles não são parvos, sabem as vozes que têm no programa, não vão dar um tema a alguém que não vai conseguir interpretá-lo. O computador deve ter alguma programação. Não sei qual é o funcionamento, mas sei que alguém programou o botão. Se calhar à Merche não lhe vão dar um tema da Dulce Pontes, deve haver alguém com cabeça a fazer aquilo.Na primeira edição os cantores com grandes vozes foram tendencialmente interpretados por João Paulo Rodrigues, Toy e Romana... Aqui há manipulação?Pois... Eu digo computador, mas não sei bem o que se passa, eles são muito discretos e não contam nada. Eu só soube as confirmações da segunda edição na semana antes. Mas penso que há ali uma certa lógica. Há um censo comum atrás do funcionamento disto.

De quem foi até hoje a melhor interpretação?(Pausa)
Na primeira edição o Toy com Stevie Wonder, foi muito real. Na segunda, tenho de escolher a Luciana com Dulce Pontes, foi espetacular.

Houve um jornal diário que denunciou que a produção oferecia álcool aos concorrentes e júri...O restaurante nem vinho tem. O Toy é que levava Dona Ermelinda. Não é permitido álcool e no palco muito menos.

Então de onde vem tanta boa disposição?Este é um programa que não tem preconceitos, é de boa disposição. Se no Carnaval as pessoas se mascararem vão rir-se. Aqui o riso começa a partir do momento em que sabem quem vão imitar. Não há ajuda química. A Alexandra Lencastre é muito divertida, O Zeca também e o António Sala tem um humor muito engraçado. Eu sou o mais carrancudo de todos. Mas damo-nos todos bem.

O Luís já trabalhou com grandes nomes da música: Rolling Stones, Whitney Houston, Madonna, Robbie Williams, Coldplay. 
O que está a fazer em Portugal?
É fácil. Eu estava em tournée. Produzi os álbuns todos do Rui Veloso e conheci pessoas da indústria. E quando apareceu o Ídolos fui convidado para participar. Como sou um produtor, tenho a experiência que tenho e achei natural que a Fremantle me chamasse. Nunca pensei vir a fazer uma coisa destas. Nunca tinha trabalhado em Portugal, o meu próprio disco foi feito em Inglaterra. E adorei fazer o Ídolos. E depois percebi que esse programa não estava a ajudar.

Como assim?Em dois anos percebi que não se iam fazer estrelas. Concorrentes de programas não têm futuro como já se provou em quatro edições daquele formato. Todos os anos se fazem concursos de música e não saem estrelas. Só no Chuva de Estrelas saíram o João Pedro Pais e a Sara Tavares. Não temos a maquinaria, a indústria para suportar um artista novo. Não há dinheiro. As editoras não vendem. Têm três a quatro artistas por ano. Vendem 15000 e já são platina. A rádio também não ajuda, repetem muita coisa. Nos EUA saem de um concurso e vendem um milhão numa semana. A Voz de Portugal era um programa muito bom, muito bem feito, o júri tinha um nível muito bom.Mas acabou por ficar em Portugal...Não estou cá. Melhor, estou 80% em Inglaterra e Estados Unidos e cá faço televisão e produzo alguns álbuns. Mas são álbuns low budjet. O que eu recebo para fazer um álbum cá recebo para fazer um single em Inglaterra.

Estamos a falar de que valores?
Um artista pequeno cá se tiver um orçamento de 10 mil euros está muito contente. Se for um artista grande já tem 50 mil euros, mas em Inglaterra recebe-se 80 mil libras para fazer um single. Não há comparação. Aqui posso fazer um álbum em três semanas, em Inglaterra não o aceitam. São mais exigentes. Não posso viver totalmente do que ganho em Portugal. Estou mais em Portugal pela Teresa [a mulher], porque ela está cá e tem cá a família. Vivo em Portugal porque gosto também, sou madeirense, mas gosto mais de Lisboa.

Aceita ser jurado neste tipo de programa porquê? Por necessidade?
Financeiramente dá muito pouco, não é muito bem pago, é razoável. Se o fizesse por dinheiro não estava aqui. Faço porque gosto. Atingi um nível na minha vida que posso escolher o que fazer e com quem trabalho. Passei muitos anos na mesa de gravação, em tournées, se calhar fartei-me. Mas de vez em quando tenho de ir lá fora ganhar dinheiro. Mas gosto de trabalhar na TVI, faço parte da mobília, sou tratado com cortesia.

Fez fortuna nestes anos que andou fora?
Não vou falar do dinheiro que tenho, se não vou ter o IRS atrás de mim (risos).

A semana passada voltou a trocar galhardetes com Manuel Moura dos Santos, quando é que essas picardias acabam?
Não fui eu que trouxe essa história ao programa, foi o António Sala. Por mim nem se devia falar disso, a única coisa que estamos a fazer é publicidade ao programa dele. Não tenho nada a dizer sobre esse assunto, já disse tanta coisa. Já me arrependi de coisas que disse num momento de irritação. Oxalá já tivessem acabado.

Com que cantores portugueses está a trabalhar atualmente?
De momento nenhum. Trabalhei com Rui Veloso, João Pedro Pais e Adelaide Ferreira, estes foram os maiores projetos que fiz. Francamente, não me vale a pena trabalhar com artistas portugueses por duas razões. Primeira: eles não percebem o que é um produtor, os artistas portugueses são centrados em si próprios, julgam que sabem tudo. E segunda: todos os temas bons que têm guardam para eles, não dividem nada com os mais pequenos. Não ajudam as carreiras dos outros mais pequenos, são egoístas. A última vez que me pediram para fazer um disco, e me fizeram a oferta financeira mandei-os passear, meti-me num avião e fui para Londres.
Todos os álbuns que eu produzi em Portugal foram pelo menos dupla platina, os do Rui e os do João.
Mas o Tony Carreira é um sucesso de vendas...Ele tem uma atitude diferente. Para já, ele não trabalha com produtores portugueses, são todos estrangeiros e vai gravar a Paris... Ele tem uma visão muito mais sofisticada. É por isso que ele está onde está. Todos os detalhes do Tony Carreira em palco são detalhes de um artista estrangeiro. O próprio filho, Mickael tem o show espetacular. Uma apresentação de palco extraordinário. Posso compará-los a artistas como o Seal ou Tom Jones.Há mais algum cantor comparado a ele?O André Sardet. Os outros têm o palco preto, põem o aparelho de som, a bateria e arrancam. Não há aquela ilusão do sonho, os fãs quando vão a um concerto querem ser deslumbrados. A Madonna tem um show impressionante, mesmo que a música seja uma grande porcaria.

E cantores estrangeiros?Estive com a Adele no verão... com os Coldplay.

Em que pé está a escola de talentos?
Está parada, estamos com um problema de construção, tivemos problemas de infiltração da água. E não se pode ter miúdos lá dentro assim. Num andar temos 10 salas e depois duas salas para dança. A construção, devido à situação financeira - porque temos uma parceria com a Câmara de Oeiras e não quero dizer mal do Isaltino, porque ele fez muita coisa - ficou parada. Não vão dar prioridade a uma academia de música.

Mas chegou a avançar?
Sim, tínhamos 300 inscrições. Estamos assim há um ano e meio. A coisa está a funcionar a 25%. Mas queremos reabrir um curso agora no verão, do género campo de férias.

Algum dos seus filhos está ligado à música?
Eu não quero nenhum dos meus filhos na música. Tenho uma filha na Madeira que canta muito bem, mas por meu conselho seguiu uma vida diferente, a Diana que participou no Ídolos, a minha enteada também, a Mariana, é uma estrela a cantar.
Exceto a Diana, que acho que vai ser uma profissional a vida toda, não aconselhamos as outras a seguir música, especialmente aqui. Se fosse lá fora era outra coisa. É muito complicado.

O seu primo Alberto João Jardim gosta dos seus comentários em A Tua Cara Não Me É Estranha?
Ele só me diz: "Homem tem cuidado com o que dizes". (risos) Ele a dizer-me isso. Isto é de família. O meu pai que era um grande médico na Madeira, era conhecido por Jardim malcriado. Nós somos sinceros, honestos. Eu sei que não consideram o Alberto João honesto, mas ele é. Se ele não tivesse feito o que fez na Madeira como fez nunca o tinha feito. Mas chegamos à Madeira e vemos o que ele fez, o dinheiro foi gasto. Mas aqui o dinheiro foi gasto e não se sabe onde. E fui habituado a Inglaterra, onde não há amigos. Em Portugal os amigos arranjam empregos para os amigos, lá não. Aqui temos muitas cunhas. Lá se não sabe fazer uma coisa não é aceite. Os nossos lobbies são complicados.

Mas estão juntos muitas vezes?
Em geral encontramo-nos em jantares, em inaugurações disto ou daquilo. E cada vez que nos encontramos é para contar histórias, somos primos legítimos, os nossos pais eram irmãos. Há uma ligação de 50 anos.

in JN

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